Eduardo Silva Nihia - Patrono da Escola Secundária de Malema

1. Origem Social
M´toto, eis aqui o cognome com que a história da Luta de Libertação Nacional liderada pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), marcou Eduardo Silva Nihia.
M´toto, designação única que com tanta pompa, expectativa e admiração granjeou no seio dos seus camaradas da Luta Armada de Libertação Nacional liderada pela Frente de Libertação de Moçambique.

M´toto, palavra Suahili que significa criança ou pequeno, atribuído na agrura e carreira da vida, do aventureirismo juvenil, mais com uma determinação e perseverança consciente de querer ver o seu país livre e independente.

Mas, M´toto, não foi seu primeiro nome ou alcunha. Ahinla – Avela (significando cansado de chorar), foi o cognome o qual os seus pais com amor, carinho e dedicação atribuiram-no logo à sua nascença, aos 14 de Setembro de 1942, naquele Regulado de Kunvare, precisamente no povoado de Mevova no Posto Administrativo de Mutuali, Distrito de Malema, Província de Nampula.
Ahinla-Avela, faz parte de um agregado familiar a estilo africano, isto é, enorme composto por 12 filhos do seu já falecido pai – N'TOUA NIHIA – que, como era hábito na época, tinha 4 mulheres.
Ahinla Avela ou seja M´toto, mais concretamente, “Eduardo Silva Nihia”, é um dos 3 filhos da sua mãe, também falecida – SAQUINA N’VAHULA – sendo o filho mais velho DIKSON N'THOUA NIHIA, seguido de uma irmã MARIANA NTHOUA NIHIA.

2. Vida infantil e Juvenil
Como ficou referido anteriormente, na parte da sua mãe teve apenas 1 irmão do sexo masculino, o DIKSON NIHIA e este muito cedo separou-se da família tendo ido à então Rodésia do Sul na companhia do seu tio de nome Mofate. Assim, AHINLA – AVELA ou seja Eduardo Silva Nihia, não usufruiu e muito menos praticou aquelas brincadeiras infantis no interior do seu lar paterno.

Muito cedo passou a conviver com o seu pai que foi caçador profissional da época, possuindo armas de fogo de tipo caçadeira, vulgarmente conhecidas por “espera-pouco”. Ahinla-Avela, recorda-se com agrado, já na idade Juvenil ter extraviado uma das armas do pai e tê-la usado no abate de uma gazela que a trouxe para casa, tendo criado expando e admiração na povoação em geral, mas sobretudo no seio dos seus familiares.

À Semelhança de outras crianças da época, Ahinla-Avela praticou a pastorícia e cuidados da criação caseira como: gado cabrino, galinhas, patos, etc. Praticou também a pesca lagustre bem como apoio à mãe na busca da lenha e da água bem como outras necessidades do domicílio.

Como é evidente, AHINLA-AVELA foi submetido a todos rituais de passagem ou de iniciação e outras crenças próprias da sua tríbo, Makua-Chirima.

Em 1951, já com 11 anos de idade, seu primo que era trabalhador da Sociedade Algodoeira de Mutuáli (SAN), de nome Paulino Sarea, acolheu-o deixando deste modo o povoado de Mevova – Kunvare. Tratava-se de uma nova fase da sua vida. No mesmo ano, tal primo envia-lhe para Cuamba com intenção de pó-lo a estudar. Consegue matricular-se numa escola primária, mas compelido de mimos ora criados no seio da sua família não consegue estudar e exige seu regresso de novo para Mutuáli.

1953, com a mesma intuição, o primo Mofate envia-lhe para Nauela, Posto Administrativo do Distrito de Alto-Molocue, na Província da Zambézia. Aqui consegue ingressar na escola de uma Missão Protestante onde frequenta desde pré-primária até 3ª classe rudimentar e, porque na época era a classe máxima naquela Missão, viu-se obrigado a regressar de novo para Mutuali.

Chegado Mutuáli, o primo entra em contacto com a professora da única escola primária oficial local de nome Teresa e manifesta o interesse para que o Eduardo Silva Nihia ingresse naquela instituição educacional. A professora Teresa impõe-lhe como condição a apresentação de uma certidão de nascimento e um certificado comprovando ser assimilado. Como não possuisse tais documentos, o primo contactou ao chefe do Posto Administrativo de Mutuáli e este é receptivo ao pedido e até mostra-se interessado. É neste contexto que o Chefe do Posto, pessoalmente, emite tais documentos registando-o com nome de Eduardo Silva Nihia. De notar que Silva era um dos nomes do Chefe do Posto. Somente assim conseguiu matricular-se na 3ª classe elementar e em 1958 conclui a 4ª classe .
Como na altura não houvesse escolas de outros níveis senão escola de Formação de Professores Primários de Marrere e o Liceu de Nampula, e porque as suas condições não lhe permitiam tal ingresso nessas instituições, o primo contacta de novo ao Chefe do Posto Administrativo de Mutuáli afim de coloca-lo como empregado na Administração. O Chefe do Posto propõe ao Administrador da circunscriçãode Malema e este pura e simplesmente rejeita-o. Porém, os contactos entre o Eduardo Silva Nihia e Chefe do Posto prevalece e granjea-lhe de relativa amizade.

- Em 1960, o Chefe do Posto, passa a categoria de Secretário da Circunscrição de Malema e é transferido para Sede da Circunscrição

- Sob influência do mesmo chefe do Posto, em 1960, o Eduardo Silva Nihia, consegue emprego na Empresa de Tabaco, conhecida por “Grêmio”.

3. Vida Laboral
Portanto, em 1960, o Eduardo Silva Nihia começa outra fase da sua vida, ao empregar-se na Família dos Morgados proprietários da Empresa de Tabacos – Grêmio – de Mutuáli. Em menos tempo passa gozar de confiança e consideração no seios dos seus padrões devido, por um lado a influência do tal Chefe do Posto, mais tarde Secretário da Circunscrição de Malema, por outro, devido as suas habilidades profissionais reconhecidas quer pelo padrões, quer pelos colegas.
Os padrões enviam-no para uma outra Unidade Tabaqueira de Muralelo, onde se especializa no tratamento e processamento de Tabaco virgínia.
Concluida a capacitação, volta a empresa e ascende a chefia na sessão de classificação de Tabaco. Ele, conta que inúmeras vezes desclassificou o Tabaco proveniente de Mandimba, facto que posteriormente levou-o ser transferido para Mandimba na condição de apoiar tecnicamente 3 Empresários portugueses, nomeadamente – ALVARO AZEVEDO CARDOSO, LOPES VIEIRA e um outros mais conhecidos por VILHENA.

Nesta transferência trouxe-lhe certas vantagens, tais como:
- 1ª, Passou a auferir 1.500$00 (escudos) na razão de 500$00 por cada um daqueles empresários, valor este considerado elevado na época e dificilmente auferido por um moçambicano de cor negra;

- 2ª, Permitiu-lhe ter contactos com um dos Partidos de Malawi – Malawi Congress Part – que lhe abriu horizontes sobre o nacionalismo e Independência de um povo:

 Em 1963, na condição de assimilado, é incorporado para o exército português. Esta situação, cria-lhe embaraços e impulsiona-lhe a vontade de abandonar moçambique.
 Eduardo Silva Nihia, continua estabelecer com mais regularidade contactos com o Partido Malawiano –Malawi Congress Part – e granjea-se de amizades e solidariedade com políticos Malawianos;

 Numa manhã, paseando no mercado de Limbe, encontra-se com o LOURENÇO MUTACA com o qual conversa longamente até reconhecerem-se, pois que teriam convividos em Nauela, no distrito de Alto-Molocué. Assim, criam confiança entre si e Lourenço Mutaca abre-se informando ao Eduardo Nihia sua missão em Malawi, que era de mobilizar e recrutar jovens moçambicanos para ingressarem na Frente de Libertação de Moçambique em Tanzania. Nessa conversa estabelecem mecanismos de contacto e seguem juntos até ao Hotel em Limbe, onde se encontrava hospedado o LOURENÇO MUTACA.

 Com base nas estratégicas orientações de Lourenço Mutaca, o Eduardo Silva Nihia parte de Limbe para Kota-Kota de comboio. De Kota-kota embarca num navio e atravessa o lago Niassa para Muaya ja no território Tanzaniano. Ao longo da trajectória é contactado por outro moçambicano, natural de Tete, de nome Baltazar. Este tenta convencé-lo que ao chegar em Tanzania ingressasse no movimento Político conhecido por MANU. Em resposta, Eduardo Nihia disse que iria pensar, mas que, sua convicção e determinação é para com a FRELIMO.

 No Território Tanzaniano sofre de algumas interpelações com as autoridades Políciais e consequentemente fica momentaneamente detido na Migração. No interrogatório é comprovado que se tratava de mais um elemento, para Frente de Libertação de Moçambique. Porém, é comunicada a liderança da Frelimo a detenção de um M'toto vindo de Moçambique.
 Eduardo Silva Nihia, é liberto e segue para Dar-es-Salam onde se junta com outros jovens moçambicanos entre eles o malogrado Samora Moises Machel.
 No 5º dia da estadia de Eduardo Silva Nihia em Dar-es-Salam, o então Presidente DR. Eduardo Mondlane, promove uma reunião com todos recém-chegados. Dr. Eduardo Mondlane, procura saber quem é o o tal M'toto que esteve detido na Migração Tanzaniana. Eduardo Silva Nihia levanta-se e apresenta-se. Nota-se que na verdade era um M'toto (criança). Procura-se saber ainda sua proveniência e, ele responde dizendo que vem da Província de Nampula. Cria outra admiração e expetativa no seio da Liderança, porque até então era o primeiro moçambicano oriundo desta Província.
 Devido as suas características fisionómicas, isto é, pequeno em estatura e em corpo fica “baptizado” em definitivo no seio da frelimo como M'toto, designação esta que usou ao longo da Luta Armada de Libertação Nacional.

 Em 1963 - juntamente com outros jovens entre eles Samora Machel, Raimundo Pachinuapa e outros, segue a Argélia onde é treinado na especialidade guerrilha.

 Em 1964 – regressa a Tanzania. Daqui recebe missão de entrar no interior de Moçambique.

- 4ª, Clandestinidade e Luta Armada

 Ja como guerrilheiro, realizou inúmeros trabalhos de reconhecimento territorial em Moçambique sobretudo em zonas possíveis de incrementar a guerrilha. Também realizou mobilizações e recrutamentos de jovens para ingressarem nas Forças de Guerrilha. Nesta actividade apontam-se seguintes Distritos: Lalaua e Malema (Província de Nampula); Mecanhelas (Província do Niassa); Milange e Gurué (Província da Zambézia);
 Durante a guerra foi protagonista na abertura das frentes de combate de Niassa Oriental, Niassa Austral concretamente na zona de Caturi e na então Província de Manica e Sofala;
 Durante 6 anos, isto é, de 1966 a 1972, foi Comandante da guerrilha na zona de Mussawissi, na Província do Niassa;
 Como se afirmou anteriormente, foi em 1972 que recebeu a missão de abrir a frente de Manica e Sofala cuja ida devia ser por via Tete;
 Em 1974 – estando na então Província de Manica e Sofala, recebe ordens de ir iniciar com os combates na nova frente da zona Sul, concretamente nas Províncias de Inhambane e Gaza. Porém, tal missão não-se realiza devido a coincidência do golpe militar em Portugal (25 de Abril de 1974) e fim da guerra armada em Moçambique.

4. Independência Nacional e após dela.

 Eduardo Silva Nihia – M'toto, participou em todas actividades relacionadas com o cessar fogo entre a Frelimo e o exercito português. Nessa altura encontrava-se na Província de Manica. Recorda-se que, na companhia do seu companheiro Matavele recebeu ordens de se enquadrar nas delegações que iriam às conversações de Luzaka. Todavia, as circunstâncias de momento não conseguem seguir e vão para Dar-Es-Salam;
 Eduardo Silva Nihia, é dentre primeiros quadros séniores da Frelimo Seleccionados para integrarem a formação do Governo de Moçambique desde o período de Transição até a Independência Nacional.

4. Formação do Governo de Moçambique

 Após a Independência Nacional, Juntamente com o então Ministro da Agricultura - Joaquim de Carvalho - cria o Ministério da Agricultura e é colocado na comissão de controle das machambas abandonadas.
 Recebe várias missões neste Ministério entre elas a criação do GAPO (Gabinete de Apoio a Produção) e trabalha na Província de Sofala;
 Posteriormente, a sede do GAPO é transferida para Manica no então Grémio de Lavoura de Vila-Pery e na circunstância o Eduardo Silva Nihia é nomeado Director do mesmo;
 Com recrusdecimento de conflito armado em Moçambique, em 1980 é chamado e regressa para as Fileiras das Forças Armadas de Libertação (FPLM) com a patência de Coronel e é enviado para República Democrática Alemã onde recebe formação militar em Comandos Combinados;
 No mesmo ano (1980) – é nomeado comandante da 5ª Brigada da Beira e dirige várias operações militares entre elas, o assalto a casa banana em Corongosa;
 Em 04 de Março de 1982 – passa ao Posto Militar de Major - General e é nomeado comandante militar Provincial de Nampula.
 Em 1987 – é nomeado como Comissário Político Nacional e Vice-Ministro de Defesa Nacional
 Em 1994 – na conjuntura Política – Militar é desmobilizado passando a Reserva.
5. Vida Política e Administrativa
 Desde Segundo Congresso da Frelimo realizado em Madjedje, na Província do Niassa, no ano de 1968, até presente momento, é membro do Comité Central do Partido Frelimo;
 No 4º Congresso do Partido Frelimo, é eleito membro do Bureau Político;
 Em 1992 – é eleito Primeiro Secretário do Comité Provincial do Partido Frelimo de Nampula;
 Durante 25 anos exerceu funções de Deputado, primeiramente tendo sido da Assembleia Popular e mais tarde da Assembleia da República;
 Presentemente, é membro do Conselho do Estado e Conselheiro do Presidente da República de Moçambique.

Nampula, 28 de Janeiro de 2008.

Compilado por:
Mário Alberto Intetepe,
Chefe do Departamento de Património Cultural.
Direcção Provincial de Educação e Cultura de Nampula.

Comentários

mingos disse…
ixo chama-se desenvolvimento mocambicano... forxa