
A ILHA de Moçambique, localizada na província de Nampula, património histórico da humanidade, posição para a qual foi elevada pela Agência das Nações Unidas para a Ciência, Educação e Cultura – UNESCO, há cerca de 19 anos, está a registar avanços notáveis no seu processo de recuperação, acção focalizada para três importantes pilares, nomeadamente a reabilitação dos monumentos e locais históricos que testemunham a passagem de civilizações antigas, a transferência de famílias da cidade insular para a zona continental e a promoção dos valores culturais sobretudo o canto, dança e a coreografia.
No entanto, a sociedade civil local manifesta alguma apreensão em relação à componente que se relaciona com o alívio à pressão demográfica da parte insular da ilha e recomenda a adopção de medidas rígidas de controlo, por parte de todas as entidades ligadas ao processo, para prevenir que não se repitam situações protagonizadas por algumas famílias, que após terem sido reassentadas no continente, retornaram à cidade, alegadamente pelo facto de não terem sido criadas as condições sociais e para a geração de rendimentos através de micro-projectos.
Para garantir a assessoria técnica e coordenar a execução dos trabalhos de restauração do património histórico-cultural da ilha, salvaguardando, sobretudo, os aspectos arquitectónicos por parte dos empreiteiros envolvidos no restauro, o Governo central decidiu pela criação, em Agosto de 2007, do Gabinete de Conservação da Ilha de Moçambique (GACIM).
O director do GACIM, Celestino Gerimula, disse que a sua instituição já recebeu um total de 40 projectos para a reabilitação de monumentos e locais históricos, submetidos por agências internacionais e investidores privados, para a sua avaliação.
Daquele número, 39 projectos que foram submetidos pelo Governo e agências internacionais de cooperação, com destaque para a UNESCO, embaixada do Japão, Noruega e Portugal, foram aprovados, tendo para o efeito sido desembolsado pelos proponentes um montante equivalente a 594,5 milhões de meticais.
O valor foi gasto sobretudo nas duas fases das obras de reabilitação da ponte de 3,8 quilómetros de extensão que liga a parte insular ao continente, colocação de pavê, numa das principais artérias da urbe e da Fortaleza São Sebastião.
Por outro lado, na reabilitação do edifício da primeira capela da Igreja Católica, da escola secundária, do Prédio Girassol que acomodou, há mais de um século, diversos serviços do regime colonial, estão a beneficiar de obras de vulto, incluindo a ponte-cais que se encontrava degradada e que vai assegurar a acostagem, em condições de segurança, de embarcações de pesca e sobretudo de cruzeiros, que escalam a Ilha de Moçambique, transportando turistas, a partir de vários pontos do mundo.
De acordo com Gerimula, o movimento de restauração e reabilitação em curso, dentro e fora da ilha, estimulou a execução de trabalhos por parte de singulares, focalizando edifícios habitacionais, bem como a transformação e aproveitamento de algumas ruínas que actualmente funcionam como locais de lazer e que nunca existiram na ilha, facto que aumentou as opções de escolha para os turistas nacionais e estrangeiros, que escalam com maior frequência a primeira cidade-capital do país, com mais de 138 anos, como cidade.
REABILITAÇÃO DO MUSEU
Maputo, Quinta-Feira, 17 de Junho de 2010:: Notícias
Os munícipes da Ilha de Moçambique estão apreensivos e aguardam com muita ansiedade o início das obras de reabilitação do museu local, pejado de símbolos que testemunham a passagem das mais antigas civilizações com tendências de evolução, expostos em três pisos do edifício onde se encontra o Palácio de São Paulo que tem atraído a atenção das pessoas que visitam a ilha.
As obras, tão esperadas, iniciam no presente ano e para a sua execução o Governo da Noruega desembolsou um fundo equivalente a 23,5 milhões de meticais. O montante, que está em poder das entidades nacionais competentes, será aplicado em trabalhos de restauração do edifício do museu, que sofreu os efeitos das intempéries que se abateram sobre aquela cidade, em particular do ciclone “Jokwé” que destruiu parte significativa das janelas e tecto, infiltrando para o seu interior águas das chuvas, que destruíram parcialmente o seu espólio com mais de um século de existência.
Além de privilegiar a estrutura física, a intervenção que será feita ao museu da ilha, com uma duração prevista de dois anos, vai incidir igualmente na conservação dos bens ali expostos um processo que acarreta fundos e tempo, na melhoria de condições para a exposição.
Bem mesmo ao lado do museu da ilha, está localizado o edifício não menos imponente onde actualmente funciona a empresa Telecomunicações de Moçambique, que pela sua idade e utilidade reclamava uma intervenção para adequá-lo às exigências actuais. O edifício encontra-se em estado deplorável sendo que algumas paredes ameaçam ruir a qualquer momento.
A grande questão em relação à reabilitação inserida no pacote de conservação dos imóveis históricos da ilha, relaciona-se com o tipo de materiais a aplicar, segundo Celestino Gerimula, constituídos por madeira da espécie mecrusse, que resiste a qualquer efeito nocivo por mais de um século, pedra apropriada e materiais que se assemelham ao cal mas com consistência.
MULHER NO CENTRO DAS ATENÇÕES
Maputo, Quinta-Feira, 17 de Junho de 2010:: Notícias
A mulher na Ilha de Moçambique constitui a maioria da sua população, actualmente estimada em cerca de 14 mil habitantes. Contudo, a maioria é analfabeta. Com apoio financeiro da embaixada da Dinamarca, estimado em pouco mais de um milhão de euros, o GACIM, em parceria com uma organização local virada para a promoção da mulher, está a desenvolver acções de alfabetização, etapa fundamental para que aquela camada social possa vingar na gestão de pequenos negócios, através de fundos que serão concedidos por uma instituição de microfinanças, ainda em criação.
Esta componente está abraçada à capacitação dos grupos de canto e dança, inserida no programa de desenvolvimento da componente humana, baseada na promoção da cultura que constitui um dos valores ímpares, daquela parcela da província de Nampula.
A nossa Reportagem apurou que a maioria dos grupos culturais da ilha não está juridicamente reconhecida, o que dificulta a injecção de fundos por parte de qualquer organismo interessado em apoiar a promoção da cultura. Nesta esteira, o GACIM está neste momento a envidar esforços no sentido de legalizar aquelas agremiações culturais, sendo que a embaixada da Dinamarca e os governos de outros países da Europa, já manifestaram interesse em desembolsar fundos, para a prossecução de actividades de âmbito cultural na ilha.
DESCONGESTIONAR COM PADRÕES ACEITÁVEIS...
Maputo, Quinta-Feira, 17 de Junho de 2010:: Notícias
O projecto Essitathy Yokopela, iniciativa suportada financeiramente por parceiros do Governo, que preconizava a criação de uma cidade satélite na zona continental do Lumbo, para assentar famílias transferidas da parte insular da cidade da Ilha de Moçambique, não deixou boas recordações no seio das comunidades locais.
Para prevenir situações similares, alguns munícipes entrevistados pelo “Notícias”, apelaram ao Governo municipal da ilha, no sentido de coordenar com outros actores envolvidos no processo, a adopção de uma estratégia que deve focalizar mecanismos de fiscalização, visando evitar que as casas desocupadas, sobretudo ruínas ou de famílias numerosas, sejam retomadas por outras idas não só do continente, como de outros distritos circunvizinhos.
Mamudo Alide, aposentado, natural e residente na ilha há 74 anos, referiu que muitas famílias estão a abandonar a cidade insular por iniciativa própria para se fixar no continente onde estão em curso acções de âmbito social e económico que motivam a sua fixação, sobretudo no Lumbo e Sangulo. Contudo, as casas onde viviam com mais de seis agregados não registam alívio como era de esperar, “porque surgem outras famílias que manifestam interesse de ocupar um quarto ou sala por uma semana que acabam ficando meses ou anos, o que contraria o espírito da iniciativa do Governo”.
Autor:
* CARLOS TEMBE, Jornal Notícias
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