Dia da poupança: Oito Notas de outra Economia
Por: JORGE FERREIRA
1 - O valor do dinheiro
Se eu tiver um euro ou um milhão de euros, o modo como o uso é que determina o seu verdadeiro valor. Se o aplico de forma útil, tem muito valor. Se gasto sem reflectir, nada vale.
Retirado da Revista Audácia, no Dia 12 de Novembro de 2010
2 – Receber e dar
O salário, a mesada, o que se recebe permite viver, sustenta. A vida, porém, constrói-se com o que se dá. A longa experiência da história humana ensina que quem apenas acumula para si corre o risco de empobrecer, de viver sozinho. Mas quem partilha nunca deixará de ter amigos que serão solidários nos bons e maus momentos.
Partilhar é a forma suprema de participar na construção de um mundo onde todos têm lugar. Todas as religiões elogiam a solidariedade: para os judeus, a caridade é uma responsabilidade da comunidade. Para os católicos, toda a Humanidade tem direito ao usufruto dos bens. O Islão manda entregar parte do lucro aos mais pobres. Para os hindus, o Homem veio ao mundo e morre de mãos vazias, e dar é uma forma de purificação. Também o desapego aos bens materiais do Budismo faz que qualquer acção tenha como intenção gerar felicidade nos outros e a si próprio.
3 – Interdependência
No mundo, todos somos parte dos problemas, das crises económicas, e todos somos também parte da solução. Quando são necessárias medidas de austeridade, e poupar, todos devem ser austeros. Mas, se sem gastar dinheiro, a economia colapsa, é preciso determinar onde se pode gastar o dinheiro de forma que ele produza mais dinheiro: as famílias farão que as suas poupanças rendam com os juros; as empresas devem investir em maior produtividade com qualidade, corrigindo o que é esbanjamento.
4 – Trabalho, gesto de amor
O trabalho também pode ser chamado acto de amor, porque amar alguém é querer o seu bem e trabalhar eficazmente para isso. «Ama-se tanto mais eficazmente o próximo, quanto mais se trabalha em prol de um bem comum», escreveu o Papa Bento VI na carta «Caridade na Verdade». O salário, que é o fruto do trabalho, é uma das manifestações, na vertente social, desse amor. Por isso, as empresas que recusam pagá-lo incorrem em injustiças graves. Para determinar se o salário é justo, é preciso considerar as necessidades básicas da subsistência de cada trabalhador e da empresa, e valorizar o que cada um produz.
5 – Economia inclusiva e sustentável
Só dispomos de um planeta para uma família humana composta por perto de sete mil milhões de pessoas, dispersas por 195 países. É imperativo considerar que o que nos alimenta, o que nos veste, o que constrói a nossa casa, o que compõe o nosso carro, etc., é produzido por outras pessoas, do nosso país e de outros países e continentes. Um consumo consciente exige que o comércio seja íntegro, com preços justos, com regras que velem pelo bem-estar de todos e com práticas saudáveis para o ambiente.
6 – Ser o exemplo que queremos ver
No passado, houve povos manipulados porque eram ignorantes (analfabetos, sem conhecimento do que acontecia no resto do mundo). Hoje, ainda há povos explorados, porque não têm acesso às novas tecnologias. É dever das pessoas e civilizações mais desenvolvidas auxiliar as populações pobres a chegar rapidamente ao progresso que todos almejam.
7 – Todos ambicionamos vencer
A sociedade moderna deu à palavra «ambição» o significado de cobiça: querer tudo! Mas, na sua origem, no latim, ambição «é a energia humana que move as pessoas, que as faz avançar, e que direcciona os seus esforços para realizar alguma coisa grande». Portanto, a ambição, na raiz, é uma virtude: realizar uma coisa grande, no sentido positivo, tem que ver com amar, ser feliz, desfrutar o melhor da vida, e isso tanto pessoal como socialmente.
8 – Espiritualidade da economia
Um provérbio africano diz que «a terra não nos pertence, foi-nos emprestada pelos nossos netos». Um chefe índio americano escreveu: «A terra não pertence ao homem, é o homem que pertence à terra.» Para o cristão, a terra e todos os seres vivos pertencem a Deus, e, então, a terra e todos os seres vivos somos dons uns para os outros. A Igreja ensina: «Deus entregou a terra indistintamente a todos os homens, a fim de que desfrutem todos os bens que produzem em abundância. Não a entregou para que cada um, com avareza furiosa, reivindique tudo para si, nem para que algum se veja privado do que terra produz para todos.»
Por: JORGE FERREIRA
1 - O valor do dinheiro
Se eu tiver um euro ou um milhão de euros, o modo como o uso é que determina o seu verdadeiro valor. Se o aplico de forma útil, tem muito valor. Se gasto sem reflectir, nada vale.
Retirado da Revista Audácia, no Dia 12 de Novembro de 2010
2 – Receber e dar
O salário, a mesada, o que se recebe permite viver, sustenta. A vida, porém, constrói-se com o que se dá. A longa experiência da história humana ensina que quem apenas acumula para si corre o risco de empobrecer, de viver sozinho. Mas quem partilha nunca deixará de ter amigos que serão solidários nos bons e maus momentos.
Partilhar é a forma suprema de participar na construção de um mundo onde todos têm lugar. Todas as religiões elogiam a solidariedade: para os judeus, a caridade é uma responsabilidade da comunidade. Para os católicos, toda a Humanidade tem direito ao usufruto dos bens. O Islão manda entregar parte do lucro aos mais pobres. Para os hindus, o Homem veio ao mundo e morre de mãos vazias, e dar é uma forma de purificação. Também o desapego aos bens materiais do Budismo faz que qualquer acção tenha como intenção gerar felicidade nos outros e a si próprio.
3 – Interdependência
No mundo, todos somos parte dos problemas, das crises económicas, e todos somos também parte da solução. Quando são necessárias medidas de austeridade, e poupar, todos devem ser austeros. Mas, se sem gastar dinheiro, a economia colapsa, é preciso determinar onde se pode gastar o dinheiro de forma que ele produza mais dinheiro: as famílias farão que as suas poupanças rendam com os juros; as empresas devem investir em maior produtividade com qualidade, corrigindo o que é esbanjamento.
4 – Trabalho, gesto de amor
O trabalho também pode ser chamado acto de amor, porque amar alguém é querer o seu bem e trabalhar eficazmente para isso. «Ama-se tanto mais eficazmente o próximo, quanto mais se trabalha em prol de um bem comum», escreveu o Papa Bento VI na carta «Caridade na Verdade». O salário, que é o fruto do trabalho, é uma das manifestações, na vertente social, desse amor. Por isso, as empresas que recusam pagá-lo incorrem em injustiças graves. Para determinar se o salário é justo, é preciso considerar as necessidades básicas da subsistência de cada trabalhador e da empresa, e valorizar o que cada um produz.
5 – Economia inclusiva e sustentável
Só dispomos de um planeta para uma família humana composta por perto de sete mil milhões de pessoas, dispersas por 195 países. É imperativo considerar que o que nos alimenta, o que nos veste, o que constrói a nossa casa, o que compõe o nosso carro, etc., é produzido por outras pessoas, do nosso país e de outros países e continentes. Um consumo consciente exige que o comércio seja íntegro, com preços justos, com regras que velem pelo bem-estar de todos e com práticas saudáveis para o ambiente.
6 – Ser o exemplo que queremos ver
No passado, houve povos manipulados porque eram ignorantes (analfabetos, sem conhecimento do que acontecia no resto do mundo). Hoje, ainda há povos explorados, porque não têm acesso às novas tecnologias. É dever das pessoas e civilizações mais desenvolvidas auxiliar as populações pobres a chegar rapidamente ao progresso que todos almejam.
7 – Todos ambicionamos vencer
A sociedade moderna deu à palavra «ambição» o significado de cobiça: querer tudo! Mas, na sua origem, no latim, ambição «é a energia humana que move as pessoas, que as faz avançar, e que direcciona os seus esforços para realizar alguma coisa grande». Portanto, a ambição, na raiz, é uma virtude: realizar uma coisa grande, no sentido positivo, tem que ver com amar, ser feliz, desfrutar o melhor da vida, e isso tanto pessoal como socialmente.
8 – Espiritualidade da economia
Um provérbio africano diz que «a terra não nos pertence, foi-nos emprestada pelos nossos netos». Um chefe índio americano escreveu: «A terra não pertence ao homem, é o homem que pertence à terra.» Para o cristão, a terra e todos os seres vivos pertencem a Deus, e, então, a terra e todos os seres vivos somos dons uns para os outros. A Igreja ensina: «Deus entregou a terra indistintamente a todos os homens, a fim de que desfrutem todos os bens que produzem em abundância. Não a entregou para que cada um, com avareza furiosa, reivindique tudo para si, nem para que algum se veja privado do que terra produz para todos.»
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