A POLÉMICA DAS «CORRENTES DE APOIO» EM E-MAIL

As chamadas "correntes" já são uma tradição antiga na internet. Uma das mais recentes, que chegou à minha caixa de email, traz a seguinte mensagem seguida de fotos de uma criança com hidrocefalia:


"Esta familia precisa da sua ajuda... Se reencaminhares esta mensagem a varias pessoas, por cada receptor eles receberao 3,00 ThaiBhat, que servira para custear a operacao da Crianca... Acredito que o faras tal como acabei de fazer..."

Pois bem, deixem-me explicar algo simples e claro sobre correntes:

Os serviços de email (hotmail, gmail, yahoo etc) não monitoram sua movimentação a ponto de saber quando você está encaminhando uma mensagem. Isto iria contra a Política de Privacidade do serviço. Logo, se te dizem pra encaminhar um email para o máximo de pessoas, fazendo uma corrente, ninguém vai ficar sabendo a não ser, claro, as pessoas que recebem o email encaminhado. Não existe, portanto, um meio de contar os encaminhamentos de uma mensagem. Esta família da criança doente não vai receber um centavo simplesmente porque é impossível eles saberem quantos emails foram encaminhados pra serem transformados em thaibhat (moeda tailandesa), como diz a mensagem.

Além disto, quem iria pagar? A mensagem diz que cada email repassado vai ser trocado por 3,00 thaibhat. É o governo tailandês que vai fazer isto? Alguma fundação? O serviço de email? Bem, mesmo que houvesse alguém interessado em pagar a conta, não teria como contar os emails encaminhados como já expliquei acima. Aliás, se houvesse alguém interessado em pagar, não se daria ao trabalho de lançar uma corrente. Simplesmente pagaria. O email por si só não vai virar dinheiro nunca.

Então porque alguém mandou a mensagem? Claro, você recebe uma mensagem porque outra pessoa já havia recebido e mandou pra você, mas alguém criou o primeiro email e começou a corrente. Pois bem, na mais inocente das hipóteses, há pessoas que criam este tipo de mensagem apenas por vontade de divulgar casos tocantes de pessoas doentes ou quem sabe estimular o espírito de solidariedade. Há, porém, outra possibilidade mais perigosa: pessoas que fazem phishing.

Phishing é uma estratégia que hackers utilizam para coletar dados pessoais e assim ter um meio de aproveitar-se de muitas pessoas. No caso das correntes, o dado pessoal que fica disponível é apenas o endereço de email. O que acontece é que, quando uma corrente passa por muitas pessoas, ela se torna uma mensagem repleta de endereços de email dos amigos, dos amigos dos amigos, pois cada vez que repassam a lista de destinatários vai aumentando.

Com todos estes endereços de email, os praticantes do phishing (que um dia receberão o email repassado, agora gordo com muitos endereços de email) têm uma lista de candidatos a golpes. Eles vão mandar mensagens para estes emails, mensagens contendo vírus em anexo, propagandas de produtos ilegais e coisas do tipo. E assim, numa questão de estatística, algumas pessoas poderão cair nestes golpes.

As correntes, portanto, servem para os hackers como uma espécie de “pesquisa de mercado”, onde coletam os endereços de email e muitas vezes o nome das pessoas, o que já é um bom começo para fazerem uma abordagem em massa.

Resumindo, se você repassa este tipo de mensagem, ainda que o faça movido por muita boa intenção de ajudar, está alimentando o mercado do phishing. Informe-se, visite os sites responsáveis por informar sobre segurança na internet e que também recebem denúncias de crimes virtuais.

Visite o site da Safernet: http://www.safernet.org.br/site/institucional

Visite o site Internet Segura: http://www.internetsegura.org/

Visite também o Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança no Brasil, que possui inclusive cursos online sobre segurança na internet: http://www.cert.br/


AUTOR: FILIPE ARAUTO E JORGE FERREIRA, PORTUGAL.

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