QUERIDOS papá, mamã, mano Evaristo e Lili: quando encontrarem esta carta já estarei do lado com o avô Inocêncio, avó Zabela e os nossos outros falecidos familiares. vou me suicidar. porquê? em primeiro lugar porque não aguento mais ver toda gente com pena de mim por ser um aleijado, depois porque não consigo dormir com tanta culpa, tanto peso na consciência por ter sido responsável pela morte dos meus bradas e ter sido eu a sobreviver; e agora metade das pessoas que me conhece me odeia, e a outra metade tem pena, e o pior de tudo é que eu não posso beber para esquecer ou fingir não sentir tudo isso. são estas as minhas razões.
Tchau mamã, desculpa não ter acabado de escolher o arroz, mas prometo que quando chegar ao céu escolherei arroz, lavarei a loiça, descascarei e pilarei o alho para a vovó Zabela. Amo-te!.
adeus papá, vais ter que arranjar outra pessoa pra jogar damas contigo. ah, é verdade! eu te deixava ganhar nas damas, como papá fingia perder no n'tchuva por isso estamos quites. vou sentir saudades até das sovas de rabo de raia que me davas quando eu roubava dinheiro pra beber.
Mano Evaristo, nunca curtimos juntos, não costumávamos conversar e nunca me deste conselhos para nada, mas levamos muita porrada juntos e eu gostava muito de ver escondido as tuas revistas. e agora vais beber às minhas custas na minha missa, a propósito, phahlar muito, eu também mereço. good bye, brother!
Enfim, Lili, minha caçulinha, não aceita aquele Godofredo da rua 12, ele é um chidáqua, mulherengo e não presta. e antes de quereres começar a namorar, conversa com a mamã. agora vais ter que ir sozinha ao teatro, ou vai com o mano. Não chores por mim, vai beber no Adamugy em minha honra.
(n.b: se fores tu a primeira a ler esta carta estou a pedir para corrigires todos os erros antes dos outros lerem ).
Ah! Quase me esquecia! quero que me vistam a camisete da 2m e o meu képe da Laurentina, as calças pouco me importam, mas faço questão nos meus chinelos, e quero uma garrafa de wisky, vódka ou gin, para o caso de eu não estar morto ou ressuscitar dentro do caixão, nunca se sabe.
Também vou escrever o meu testamento:
Deixo o meu cell e a minha mesada do próximo mês pra a Lili. Toda minha roupa deve ser doada aos putos de rua. minha colecção de revistas, abre-garrafas, rolhas e tampinhas deixo pra o primeiro neto da casa - exijo que seja dado o meu nome "albino batista cossa sobrinho". e por fim, a minha cadeira de rodas deve ser vendida e o dinheiro é do mano e da Lili.
Enfim, adeus mundo cruel, adeus família, adeus bebedeiras e babalazas. e se pensam que estou a brincar, não estou, escrevo á serio, vou me matar, aliás já o fiz.
Adeus!
Papaíto
desculpem a cor da caneta, só tinha esta ).
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